sábado, 25 de julho de 2009

VIDA A BORDO 10

Depois de passar o carnaval em Salvador e velejar por Itaparica e suas belezas, estamos de volta a Baia de Camamú/BA, mais precisamente a Ilha de Campinho.
“Campinho e um lugar mágico”. Assim definiu um amigo de nacionalidade Alemã, que mora na região há 30 anos. Veio conhecer e nunca mais saiu.
A velejada de Salvador a Baia de Camamú, foi espetacular. Saímos sob uma lua cheia muito bonita, com ventos fracos e mar espelhado. O barco fazendo entre 2,5 e 3,5 nos de velocidade, em torno de 6 km por hora. Com aquela lua e aquele mar não precisava fazer mais.
Como era lua cheia e véspera de feriado da Semana Santa, não tinha nenhum pesqueiro no mar, contribuindo ainda mais para a tranqüilidade da velejada.
A única nota destoante foram duas plataformas da Petrobras, em frente a Morro de São Paulo, mostrando que aquele paraíso está com os dias contados.
Ancoramos na Ilha de Campinho após 15 horas de velejada. Depois de uma pequena faxina a bordo, fomos abraçar Dona Aurora e Dona Onilia, duas senhoras que sempre recebe os velejadores com muito carinho. Comemos uma moqueca feita no fogão à lenha e panela de barro que estava uma delícia. Segundo a Aurora tinha pouca pimenta, mas eu estava a ponto de botar fogo pela boca.
No sábado de Aleluia, como a casa da Aurora é ponto de encontro do Campinho, participamos da confecção do Judas, com direito até ao seu testamento, com todos que participaram da festa recebendo seu quinhão no testamento. Após meia-noite botaram fogo no Judas e a festa rolou solta.
O paraíso do Campinho é muito difícil de descrever, porque a tranqüilidade, o silêncio e suas águas macias, deixam o lugar com muitos encantos, muitos deles inimagináveis pelo homem.
Às vezes me pego vagando em pensamentos de como pode haver um lugar assim, com tanta beleza e magia.
O homem com sua sede por dinheiro vêm tentando de varias maneiras, investidas financeiras no Campinho, mais a natureza e a simplicidade do lugar, tem feito muitos perderem fortunas. O grande segredo da Baia de Camamú, o homem investidor não alcança. Ele não sabe parar, por alguns minutos, e ser render aos encantos da natureza.
Hoje olhando para esse lugar do cockpit do Avoante, que balança suave em suas águas, agradeço a Deus por ter me dado à oportunidade de viver esta vida a bordo de um veleiro. Sem os barulhos dos motores que tanto mal fazem as cidades.
Conhecer esses lugares ao sabor dos ventos e das correntes, interagindo de tal forma com a natureza que sentimos o mais suave movimento dos peixes e dos pássaros, faz bem a alma.
Muitos já me perguntaram qual o prazer de velejar, se o tempo que se gasta de um lugar para outro e tão grande. Esse e um dos prazeres mais fascinantes da vela de cruzeiro. A natureza é a senhora do nosso tempo, ela quem dita às regras. Ela determina nossa vida, não só para velejar, ela e a senhora de tudo, nos e que colocamos padrões em nossa vida que nem sempre podemos cumprir, então criamos várias regras, relógios e computadores para competir com a natureza. A natureza não compete, ela determina. O velejador não compete com a natureza, se alia a ela para alcançar seus objetivos.
Aqui no Campinho, o dia custa a passar, justamente por estamos aliados à natureza, e isso nos deixa felizes e abertos para aceitar tudo o que ela nos doa. Aproveitamos à chuva, os ventos, os temporais, o sol, a lua com suas fases e o mar com seus humores. Tudo ao nosso alcance sem muito em troca, apenas o respeito.
O feriado da Semana Santa, não alterou muito a rotina na Ilha de Campinho, poucos procuraram suas belezas e tranqüilidade. Barcos ancorados apenas quatro, o Avoante, um barco francês e dois brasileiros. Mais isso e o que fascina o visitante que procura por esse paraíso.
Difícil é deixar o Campinho, mas ainda temos muito a navegar até a Cachoeira de Tremembé, 20 milhas rio acima.

Nelson Mattos Filho
Velejador
* Artigo publicado em abril de 2006 no jornal Tribuna do Norte, coluna Diário do Avoante. O Diário do Avoante é publicado todos os domingos.

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