quarta-feira, 25 de novembro de 2009

VIDA A BORDO 27



Tenho recebido vários emails com perguntas de leitores que responderei neste artigo. São curiosidades e preocupações que por muito tempo também vagaram por minha mente, antes de me aventurar no mar. Muitas pessoas vêem o mar como um mundo proibido, hostil e perigoso. Hostil pode ser, afinal, estamos num ambiente que não é o nosso, com humores que obedecem as forças das correntes marinhas e dos ventos, seguindo as regras estabelecidas pela natureza. Perigoso, nem tanto, desde que você siga as normas de segurança e respeite as forças da natureza, o mar nos acolhe com muito carinho. Proibido, apenas quando as forças da natureza são maiores do que nossos conhecimentos e nossas habilidades marítimas.
Vocês param a noite para dormir? Tudo depende do percurso, quando é um percurso pequeno chegamos à tardinha e dormimos ancorados. Quando o percurso é maior ou fazemos uma travessia, como para Fernando de Noronha, utilizamos o piloto automático e fazemos turnos de vigia, com períodos de 2 horas para cada um, quem não esta no turno entra para a cabine, dorme ou descansa, depende das condições de mar que pegamos.
A noite da para ver alguma coisa na frente? Sim, quando é noite de lua cheia, minguante ou crescente, o mar fica iluminado. Como estamos longe das luzes da cidade, a luminosidade é grande. Em noites de lua nova, que chamamos noite de escuro, continuamos nos beneficiando da ausência de iluminação artificial. A partir do crepúsculo acendemos as luzes de navegação e luzes das bússolas, que são vermelhas e não encadeiam. Nossa vista se adapta ao escuro e em noites muito estreladas a luminosidade é excelente.
E os tubarões? Estamos dentro de um barco e com toda segurança. Os tubarões não andam atacando barcos por ai como vemos em filmes. O mar não é infestado por tubarões.
Como saber que estão no caminho certo? Para toda área de mar existem uma carta náutica especifica. Carta Náutica é o retrato detalhado do mar. Por ela nos direcionamos e traçamos nossas rotas, livrando de riscos. Com o auxilio do GPS e bússola fazemos o acompanhamento periódico. Podemos fazer, também, navegação costeira nos beneficiando dos pontos notáveis da costa para nos orientar-mos, mas mesmo assim teremos que ter a Carta Náutica da região. Somente ela nos livra dos perigos de pedras, bancos de areia, cascos soçobrados e outros perigos para a navegação.
Como fazer para não bater em outros barcos? O RIPEAM, Regra Internacional Para Evitar Abalroamento no Mar, regula todo trafego marítimo. Devemos estar atentos à movimentação de outros barcos, às vezes precisamos ter o bom senso de desviar nossa rota, mesmo que estejamos com a preferência de rumo. Mais vale a segurança da tripulação e embarcação. Uma luz ou um barco no horizonte e sempre motivo de atenção. Se for um navio a atenção é dobrada, navios viajam muito rápidos e sua capacidade de manobra é restrita.
Vocês vêem alguma assombração? Essa pergunta é muito interessante e divertida. Até hoje não vi nenhuma “assombração”, se elas existem, acho que tem medo do mar, enjoam muito e não aparecem.
Existem piratas? Infelizmente estes bandidos existem. Nos nunca tivemos problemas com piratas, mas alguns colegas já tiveram, ao navegarem pelo litoral norte do Brasil, ilhas do Caribe, Ásia e África.
Vocês não têm medo de tempestades? Temos medo sim, afinal uma tempestade em alto mar é perigosa. Antes de sair do porto, avaliamos as condições de tempo, clima e intensidade dos ventos, assim nos resguardamos o máximo possível de um mau tempo. Se formos surpreendidos no mar é manter a calma, arriar velas ou diminuí-las, esperar que o tempo melhore ou seguir para algum porto mais próximo.
E as ondas grandes? Ainda não pegamos nenhuma onda gigante, a maior que encontramos foi 4 metros, para um barco tipo o Avoante, não oferece perigo, ele foi projetado para encarar o oceano. As grandes ondas em alto mar, geralmente são em latitudes mais altas. Grandes ondas que castigam as praias nas ressacas, em alto mar, não passam de elevações.
Varias perguntas são feitas, responderei outras em outros artigos. Se você tem alguma pergunta, entre em contato que teremos muito prazer em responder.
O mar tem alguns mistérios mais nenhum assombroso a ponto de desistir-mos de navegar.

Nelson Mattos Filho
Velejador

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