domingo, 8 de novembro de 2009

DEIXANDO A ILHA


Depois de três dias em Fernando de Noronha, era hora de voltar ao Continente. Não sei se estou sendo muito exigente, mas achei a Ilha um pouco desanimada. A turma de velejadores que sempre faz muito barulho e movimento, este ano estava meio apática. Parece que a todos sentiram os efeitos da falta de vento que prolongou em várias horas o percurso. Não teve nenhum barco que não tenha aumentado em pelos menos 15 horas o tempo de regata. A grande maioria dobrou o tempo em relação a edições anteriores.
Mas, quem depende do vento e do mar para navegar já deve estar acostumado com essas coisas. Na minha singela opinião, esta faltando eventos para agregar a rapaziada. A estratégia de largar os velejadores ao sabor dos encantos, recantos, passeios e paisagens da Ilha, já esta cansando.
Mas, chega de reclamação e vamos voltar ao assunto que interessa ao nosso Diário, até porque com evento ou sem evento, aquele paraíso fincado no meio do Atlântico, formado por lavas vulcânicas, todo ano traz novo brilho e animo a nossa alma de velejador.
Na Ilha é muito fácil fazer amigos, todos que moram naquele pedacinho isolado do Brasil, têm sempre um sorriso e uma palavra de amizade para o visitante. O ilhéu gosta da gente de graça, basta um olá para que se engate um papo que nos leva a ter um grande amigo.
Foi assim com nosso grande amigo Carlinhos e sua esposa Lurdes. Certo dia, estávamos esperando chegar água para tomar banho, porque água doce em Noronha é um bem escasso, quando vimos Carlinhos deitado numa rede tentando tirar uma soneca. Encostamos para perguntar alguma coisa, até porque Lucia tem sempre algo a perguntar, quando apareceu Lurdes. Ela olhou para a gente e disse que já nos conhecia de João Câmara. Tínhamos uma padaria em João Câmara e ela era nossa cliente. Daí para ser convidado para um peixe na folha de bananeira foi apenas o tempo de Carlinhos levantar da rede e começar a festa.
Hoje, basta o Avoante apontar no horizonte da Ilha, todos já sabem que vai ter festa na casa dos amigos Carlinhos e Lurdes. Junto com o casal veio Serginho do barco Patrick I, Charamba, Chico Eletricista, Djalma e outros que sempre fazem parte dos intermináveis churrascos.
Foi assim com os amigos Neto e Zete, proprietários da Pousada Tia Zete, que conhecemos num dia e dali já surgiu uma grande amizade. Pessoas do bem e sempre prontos a ajudar. Neto e Zete são grandes parceiros na organização da regata Noronha/Natal. Neto, inclusive, todos os anos é quem da o tiro de largada e sua lancha serve de Casa Bordo (barco que abriga a comissão da prova).
Nunca gosto de fazer a velejada de volta, acho cansativa, desconfortável e sem entusiasmo. Afinal estamos deixando para trás bons amigos e uma bela paisagem emoldurada por um mar de sonhos.
O mar da volta é muito chato e parece que nunca esta de bom humor. O vento nunca se estabiliza, sempre prega uma peça aos mais desavisados. Eu, por mais que me prepare, sempre estou na turma dos desavisados.
Tivemos a reunião de comandantes na Pousada Monsieur Rocha, é lá foram passados todos os detalhes da prova até Natal. Pela Marinha do Brasil, como sempre, dando total segurança ao evento, falou o comandante do Navio Patrulha Graúna e o comandante do rebocador de alto mar Triunfo.
A presença do Capitão dos Portos do Rio Grande do Norte, Capitão-de-Mar-e-Guerra Francisco Vasconcelos, que na ocasião estava como proeiro-mor do Avoante, foi uma alegria para todos os presentes. Como excelente oficial da Marinha do Brasil, prestou todas as informações de sua área de comando e desejou boa estadia em Natal a todos os velejadores, mas deixou um alerta: Não admitia ninguém ultrapassar o Avoante. Este alerta acho que ninguém ouviu!
O dia da largada, Sábado, foi de tempo bom e vento soprando na casa dos 18 nós. Dezessete barcos na raia e promessa de uma boa velejada.
Mas, como sempre, eu estava com o pé atrás!

Nelson Mattos Filho
Velejador

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