sexta-feira, 6 de novembro de 2009

VIDA A BORDO 21

VIDA A BORDO


Ancoramos na Ilha de Campinho, Baia de Camamú, num dia ensolarado de Janeiro de 2005. A tripulação era Eu, Lucia, Manoel, Pedrinho e Lucinha. Ao anoitecer, Lucia teve uma idéia muito luminosa, ou melhor, bem escura. Vamos comer PIZZA!. Eu adorei o convite e os outros apesar de não gostarem muito de pizza concordaram de pronto.
Desembarcamos, deixamos o inflável no píer do Sitio Sábia e fomos nos aventurar na pizza.
A pizzaria ficava a margem do Rio Carapitangui, um pouco distante de onde estávamos. Começamos bem a caminhada pela estrada de Campinho que leva a Ponta da Ingazeira, a vila central da ilha. Após andarmos 1 km, perguntamos qual o caminho para a pizzaria Matatauba, o nome bem sugestivo. O homem olhou para todos e falou: “sigam em frente e daqui a 500 metros virem à direita e vão em frente até encontrar um fogo...”. “É longe...?” perguntou Manoel, “não e logo ali, uns 3 quilômetros!” Todos se entreolharam e Lucia sentenciou, “vamos que estou com fome...”. A estrada era uma trilha estreita, escura e com muita areia. Como era noite de lua nova, a escuridão era total, ouvíamos apenas os grilos, sapos e corujas. Manoel dizia: “essa pizza tem que ser muito boa”. Pedrinho somente ria e Lucinha sempre concordando com Lucia, incentivava o grupo de aventureiros e eu pensava: “esse negocio não vai dar certo...”.
A trilha passava por lugares fantasmagóricos e misteriosos, e nem sinal de pizzaria, gente ou luz de fogo. Andamos cerca de hora e meia pela mata até avistamos tochas acesas por entre arvores. O medo foi grande, mas continuamos e seguimos as tochas num túnel de mato e arvores por mais meia hora. Um cachorro nos abordou e então chegamos à bendita pizzaria às 22 horas.
De clientes apenas nós cinco e os mosquitos, porque a pizzaria fica na beira do rio e as mesas colocadas ao ar livre, embaixo de arvores, no meio da mata.
Pedimos as pizzas e como sugestão para os que não comiam queijo a garçonete indicou pizza de alho, Manoel adorou a idéia. As pizzas para mim estavam uma delícia. Lucia adorou que repetiu várias vezes, Lucinha comeu com restrições. Pedrinho e Manoel que não gostavam de queijo e depois descobriram que também não gostavam de alho, nem provaram.
A volta foi de lamentações de Pedrinho e Manoel. Eu, Lucia e Lucinha riamos muito, nos divertindo com as reclamações. Manoel, até hoje não aceita convites, principalmente de Lucia, para comer pizza.
Fora este pequeno incidente, a ancoragem na Ilha de Campinho foi muito agradável. Aquele lugar é um dos mais bonitos do litoral baiano. Tudo ali transmite muita paz e harmonia. Era nosso primeiro contato com aquele lugar mágico.
Ali o tempo é medido pela maré alta e baixa. E com ela aprendemos que o stress da vida moderna é uma coisa tão mesquinha que não cabe naquele universo de beleza e vida renovada constantemente.
Os pássaros voam livres. As arvores frutíferas são de uma bondade tão grande que seus frutos adoçam o mais exigente paladar. Os peixes e mariscos são apanhados diariamente e pegos apenas para o consumo diário. A fartura e muito grande. Mas apesar desse clima de harmonia, o homem já conseguiu acabar com os caranguejos que existiam em toda a região, restando poucos sobreviventes dessa espécie. As proibições de captura do caranguejo são apenas falácias de burocratas e os órgãos responsáveis pela sua preservação fecham os olhos diante dos abusos.
Acordar e dormir apreciando a vida que corre a ritmo lento e natural na Baia de Camamú é um presente para nossa alma. O pôr-do-sol é um espetáculo grandioso de luz, cores e formas. O brilho das estrelas é contagiante e o nascer do dia faz desabrochar um mundo iluminado de paz e vida.
Perguntam-me porque falo tanto na Baia de Camamú, eu respondo com uma interrogação: “você já foi a um lugar mágico?”.
Camamú me fascinou como fascinou Lucia. Vivemos os melhores dias de nossas vidas nesse paraíso encantado de paz, amor e vida. Até acontecimentos como a aventura para comer pizza é degustado com muito boa vontade e alegria de ter vivido aquele momento delicioso.
Tenho um encontro já marcado com a Baia de Camamú no meu futuro, espero que seja para breve.
Bons Ventos!

Nelson Mattos Filho
Velejador

Um comentário:

  1. Eu acho que pela divulgação do lugar tu ja ta merecendo no minimo o titulo de cidadão Camamuense!
    Espero que tu nunca escreva sobre Camamu para um veiculo de alcance nacional ou pior ainda mundial,pois do jeito que tu fala do lugar da vontade de largar tudo e se mandar pra la,tu ja pensou vai faltar Camamu pra todos que lerem.
    Um abraço

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