terça-feira, 3 de novembro de 2009

COMENTÁRIOS SOBRE UMA REGATA

A Ilha de Fernando de Noronha continua a mesma, muito bonita, muito charmosa e com todos os atrativos naturais que fazem dela o destino sonhado por quase todo brasileiro, principalmente para os velejadores.
Este ano de 2009 a REFENO não manteve a mesma frequência de barcos participantes, estavam escritos mais de 90 barcos, pela listagem oficial do Cabanga Iate Clube, mas apenas 49 chegaram à ilha. Barcos que todos os anos marcavam presença no evento, este ano se mantiveram ao largo da disputa. Mas, independente do pequeno numero de embarcações, a REFENO manteve sua tradição de regata tranquila, segura e cheia de surpresas ao longo das 300 milhas de percurso.
A comissão de regata foi perfeita no quesito organização, mas faltou calor humano e uma maior integração entre os participantes, coisa que em anos anteriores era o ponto alto do evento, como os bate papos no palhoção ou na varanda do restaurante do clube, que este ano, infelizmente, estava fechado.
A REFENO precisa voltar a ser o que era antes, uma regata de confraternização, divertida e sem as burocracias tão pertinentes dos dias atuais.
O Cabanga Iate Clube, organizador do evento, ultimamente se preocupa apenas com as poucas comemorações em Recife e na festa de premiação em Noronha. Faltam eventos que agreguem os participantes na ilha e que prevaleçam as confraternizações entre as tripulações.
Sei que barcos competitivos como os velozes Adrenalina, Ave Rara, Sorsa e outras máquinas de regata, priorizam apenas a competição, mas a alma e a energia da REFENO estão voltadas para a confraternização e o calor humano tão vivo na alma do nordestino e principalmente do velejador. Isso que deu força a REFENO, como as muitas tripulações de cruzeiristas que, em família ou entre amigos, singram o Atlântico em busca do azul deslumbrante que refletem as profundezas desse belo oceano.
Este ano não tivemos os bons alísios que sempre sopram nessa época do ano. Os ventos foram fracos, incertos e contrários. Segundo o comandante Erico Amorim, 16 anos atrás essa mesma situação prevaleceu, o que levou muitos competidores chegarem à ilha depois da festa de premiação, inclusive os organizadores Mauricio de Castro e Emilio Russel. Mas, aqueles eram outros tempos, em que o prazer era o romantismo da velejada a tão sonhada ilha.
Talvez a partir daquele ano a organização tenha pensado nas mudanças que trariam modernidade a regata e não afastassem da premiação os mais atrasados. Mas, também, talvez possam ter decretado o fim do processo de alegria, brincadeiras, romantismo e confraternização da regata.
A regata cresceu e chegou ao auge com 140 barcos inscritos. Vieram os barcos modernos e competitivos que deram mais charme e visibilidade a REFENO. Todos queriam participar, inclusive os grandes anunciantes. A fase do amadorismo cedeu espaço ao profissionalismo, com todas as suas exigências e todas as suas bandeiras desfraldadas.
Um amigo velejador, que já perdeu a conta de quantas vezes já participou, um dia me falou que a REFENO tinha que se profissionalizar e aumentar as exigências aos participantes. Ele um grande skiper profissional com muitas milhas navegadas, hoje não enxerga mais o romantismo e aventura de uma boa velejada até Fernando de Noronha. Vive pregando a tragédia que nunca aconteceu ou a exigência de modernos e caros equipamentos, que nem ele sabe os benefícios que teriam no mar. Prega até a exclusão da Marinha do Brasil do evento, mas se sente altamente protegido pela sua presença junto à flotilha.
Outro me disse que detestava Fernando de Noronha e que não sabia o fazia ali todo ano. Olhei para ele e pensei: Será que isso é o tal profissionalismo? Quanta falta de amor pelo mar! Quanta rudeza cercada de tanta beleza!
Eu o prego a volta da fase áurea de uma REFENO de calor humano, amadorismo, alegria, brincadeiras, velejada com vento ou sem vento, peixe na linha, vento contra, vento a favor, confraternização entre velejador e ilhéu, ancoragem nas praias do Sancho, Conceição, Baia dos Golfinhos e outras belezas paradisíacas.
Prego uma REFENO mais humana e mais festiva, em que o prazer de velejar não iniba o prazer de uma boa e sadia disputa entre barcos tão diferentes.
Prego a paixão pelo mar e pela boa velejada como a maior e mais importante exigência aos participantes.
Que venha a REFENO 2010 é com ela uma nova velha fase do amadorismo! Afinal, somos todos amadores em busca do prazer de uma boa aventura.

Nelson Mattos Filho

Um comentário:

  1. Muito bem, gostei do artigo. Parece mesmo que não há uma definição por parte do Cabanga e cada Comodoro muda o mínimo. Alguns problemas se repetem: o famoso "barco de apoio" pela segunda vez foi liberado pela Marinha à véspera da regata.

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