segunda-feira, 8 de junho de 2009

VIDA A BORDO 06

Este artigo foi publicado na Tribuna do Norte - Diário do Avoante, em março de 2006.
Quatro meses depois de chegar a Natal, vindo da regata de Fernando de Noronha, estamos retornando ao mar, para prosseguir nossa viagem pela costa do Brasil. Nesses 4 meses em Natal, ficamos muito gratos com os que fazem o Iate Clube do Natal, representado pelo comodoro Marcos Tassino, pelo apoio e todos funcionários que sempre nos acolheu com muito carinho. Agradecemos também a Rede Mais Ponta Negra pela parceria e a Tribuna do Norte, através do Sr. Carlos Peixoto, pela oportunidade que tem nos dado de dividir com os leitores essa nossa maneira de vida.
Saímos terça feira, 21 de fevereiro, com destino a Salvador, com uma parada programada no Recife, para desembarcar o amigo Pedrinho que junto comigo e Airton Galvão, formava a tripulação até o Recife, e embarcar Lucia, que tinha ficado em Natal, terminando umas encomendas de Caixas Surpresas que confeccionamos a bordo.
A viagem até Recife foi muito boa, vento leste e o mar com ondas de nordeste. Foi uma velejada de 36 horas até o Cabanga Iate Clube. Fisgamos vários peixes para deleite da tripulação. Chegamos a Recife 11 horas da noite da quarta feira 22, com a cidade pronta para o carnaval, que já emitia os primeiros acordes carnavalescos. Pela manhã, fizemos uma breve faxina a bordo e fomos passear pelo centro histórico de Olinda, que a essa altura já comemorava o carnaval. Lucia chegou à tarde e às 22 horas levantamos ancora debaixo de uma chuva forte que se estendeu até o traves do porto de Suape. Apesar da chuva, o vento continuou muito bom. Seguimos nosso rumo a uma distancia de 6 milhas da costa até a cidade de Maceió, numa velejada de 20 horas.
Maceió foi ficando para traz e começamos a nos afastar da costa, para livrar dos efeitos do Rio São Francisco, das plataformas de petróleo em frente a Aracajú e dos barcos pesqueiros que ficam em frente à foz do grande rio nordestino. Alguns barcos pesqueiros, à noite, não acendem nenhuma luz, o que coloca em risco a navegação noturna nessa área.
A partir de Maceió a costa da uma entrada acentuada para oeste. Como não iríamos entrar em Aracajú, traçamos o rumo direto para Salvador, pelo qual chegamos a navegar por mais de 24 horas sem avistar terra. Apenas víamos o clarão da cidade de Aracajú e algum fogo das chaminés das plataformas.
A navegação nessa distancia, 20 minhas da costa, é bastante tranqüila. Encontramos poucos barcos pesqueiros, o mar é mais bonito com uma tonalidade de azul Royal bem forte e com profundidade que muitas vezes ultrapassa os mil metros. O céu sem nuvens é um espetáculo à parte. Os únicos sons que ouvíamos eram da água passando pelo fundo barco e do vento soprando as velas. É realmente um momento mágico.
A velejada foi tão boa que a cozinha do Avoante funcionou a todo vapor. Lucia, que felizmente, resolveu seus problemas de enjôos, colocou os dotes culinários para funcionar, nos brindando com pratos incríveis. O cardápio foi completo, café, almoço, lanches e janta. Maravilha! Nossa dieta foi de engorda.
Na altura de Mangue Seco, divisa de Sergipe e Bahia, quando pretendíamos fazer a aproximação da costa, o vento e o mar vindo de popa nos animaram continuar no mesmo rumo, que dava boa velocidade e, conseqüentemente, menos tempo até Salvador. O vento estava tão empopado que em grande parte do percurso colocamos “asa de pombo”, modo de regulagem das velas em que a vela mestra fica de um lado e a genoa do outro. Com isso ganhávamos velocidade.
O piloto automático funcionou uma maravilha, foi raro o momento em que precisamos timonear. Esse equipamento é fundamental para o conforto de um barco de cruzeiro. Sem piloto automático a história é outra.
Amanhecemos o domingo fazendo contas e examinando a carta náutica, para prever nossa chegada a Salvador. Afinal, era o segundo dia de carnaval e nos dirigíamos ao maior carnaval do mundo. Airton sonhava com uma cerveja gelada.
Cruzamos o Farol de Itapoan e aproamos o Farol da Barra. Optei passar por dentro do banco de Santo Antonio, porque o mar estava muito calmo e isso nos aproximava da orla da Barra, palco do mais novo circuito do carnaval de Salvador. Às 17 horas estávamos em pleno Farol da Barra, a avenida fervia com o Chiclete com Banana, Olodum e a banda Asa de Águia. Do lado de bombordo o sol começava a ser pôr. Nossa recepção não poderia ser melhor.
Deixamos o Farol da Barra, com seu animado carnaval e rumamos para o Centro Náutico, local de nossa ancoragem, que fica em frente ao Mercado Modelo e o Elevador Lacerda. Chegamos por volta das 18h30min, fizemos uma pequena faxina a bordo, tomamos aquele banho e fomos curtir o carnaval do Pelourinho e tomar aquela cerveja bem gelada com acarajé, com direito a seguir atrás das bandinhas que faziam a festa pelas ladeiras do Pelourinho.

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