quarta-feira, 21 de outubro de 2009

VIDA A BORDO 18

Este artigo foi publicado na Tribuna do Norte, coluna Diário do Avoante, em 2007. A coluna é publicada todos os Domingos. Até hoje já foram escritos e publicados na Tribuna do Norte 150 textos.
Depois de uma temporada conhecendo o litoral baiano, tínhamos que voltar a Natal. O período das chuvas castiga muito litoral da Bahia. As frentes frias se sucedem deixando o tempo frio, ventos fortes e mar agitado.
Nossa volta para Natal é muito discutida a bordo, pensamos em ir novamente a Fernando de Noronha, fazendo parte da regata, poderíamos esperar o Rally Náutico, que sai em setembro para Recife, mas tínhamos alguns compromissos em Natal que se tornavam inadiáveis. Então foi pegar o mar e seguir viagem!
Lucia voltou a Natal de avião e eu trouxe o Avoante com a ajuda do Pedrinho que se ofereceu para voltar comigo. De última hora, o Freitas liga e fala: “me espera que chego ai amanhã..”. Refizemos os planos e atrasamos nossa saída em um dia.
Saímos de Salvador numa quarta-feira, às 14 horas, com ventos sul e sudeste, mar com agitação moderada e lua crescente.
Os pescadores a bordo, trataram logo de jogar a linha, já contabilizando o número de peixes que pegariam.
Nossa primeira noite no mar foi também nosso primeiro banho de chuva. O vento apertou um pouco e o mar ficou mais agitado. O mal-estar a bordo foi sentido por todos. De madrugada o vento diminuiu a ponto de termos de ligar o motor para ajudar no seguimento, o que criou novas condições de enjôos, no capitão e em Freitas, devido ao cheiro de diesel. Apenas o Pedrinho com sua vivência de pescador, segurou a barra.
O dia amanheceu trazendo um dia bonito e consequentemente passando por completo os enjôos. Os ventos sul e sudeste empurravam o Avoante numa velocidade muito boa. Verifiquei a navegação e comprovei nosso avanço, se resolvêssemos seguir direto para Natal, gastaríamos 4 dias. Uma marca muito boa.
Nossa rota nos fez passar bem ao largo da costa de Sergipe, passamos à 19 milhas de Aracajú e bem distante das plataformas de petróleo. Como passamos a noite, víamos apenas o clarão. Nessa distância saímos dos efeitos provocados pelo Rio São Francisco.
A sexta-feira amanheceu nublada e com pouco vento. Para alimentar com energia os equipamentos a bordo, tínhamos que ligar o motor a cada 4 horas, nosso piloto automático consome muita bateria. Com o tempo nublado, a placa solar não gerava energia suficiente.
À tarde tivermos nosso maior problema, o alternador parou de gerar energia, a causa era um mangote de resfriamento do motor furado e jogando água salgada em cima do alternador. Trocamos o mangote, porém o alternador havia queimado.
Para compensar, o vento começou a soprar bem mais forte, nos empurrando a 5 e 7 nós de velocidade. À noite entramos em Maceió para resolver o problema do alternador.
A chuva em Maceió caia forte, nos prendendo durante todo o sábado. Só conseguimos levantar âncora no domingo, depois de montar o alternador.
Seguimos para Recife, mas como tínhamos vento e boas condições de mar, resolvemos seguir viagem até Cabedelo.
Próximo a João Pessoa, a chuva apertou numa intensidade tão grande que resolvemos abortar a entrada em Cabedelo e alteramos o rumo para Natal, debaixo de muita chuva e muito frio.
O vento também soprou bem mais forte, nos obrigando a recolher a vela genoa e seguirmos viagem apenas com a vela grande no primeiro rizo. Mesmo assim, o barco navegava a 5 e 6 nos de velocidade.
Chegamos a Natal, debaixo de muita chuva, na terça-feira, seis dias após sairmos de Salvador. Atracamos no píer do Iate Clube do Natal, e recebemos as boas vindas de Lucia, minha sobrinha Roseani e Francisca, esposa de Freitas.
Quanto aos peixes, nossos dois pescadores tiveram um rendimento abaixo da média, apenas 3. Quanto ao tamanho, fica difícil determinar, pois pescador é muito criativo.
Nossa chegada a Natal encerra um período de quase dois anos de velejadas pelo litoral da Bahia. Continuaremos morando a bordo por opção de vida e fazendo projetos para outras velejadas.
Agradecemos a Tribuna do Norte, por acreditar no nosso projeto, aos leitores que nos incentivam, ao Iate Clube do Natal, a Rede Mais de supermercados, aos companheiros que estiveram com a gente, aos amigos e a família pelo apoio e compreensão.
Até breve!


Nelson Mattos Filho

Nenhum comentário:

Postar um comentário