quinta-feira, 27 de agosto de 2009

VIDA A BORDO 13

Morar a bordo requer certo cuidado com a alimentação. No barco, devido à umidade e maresia, o acondicionamento dos mantimentos deve ser muito bem feito.
Os enlatados são bem vindos, principalmente em navegadas com mar mexido, onde ficamos sem condições de fazer comida mais elaborada. Mas, sua estocagem e consumo precisam ser bem acompanhados, utilizando-se a regra de estocagem: primeiro que entra, primeiro que sai.
As sopas e massas em pacotes, também são bem aceitas a bordo pela facilidade de uso nas travessias.
No Avoante, não temos geladeira elétrica, nem a gás, dependemos de gelo, o que restringe o consumo de alimentos perecíveis.
Não comemos apenas enlatados e sopas, isso deixamos para as velejadas mais difíceis.
Usamos muitas frutas, verduras, legumes, carne seca, peixes, biscoitos e pães.
Tentamos manter uma dieta rica em alimentos frescos.
Quando ancorados, compramos o necessário ao consumo do dia. Como não temos geladeira para estocar carnes, peixes, queijos, iogurte e leites, compramos tudo novinho e na quantidade certa.
Pães, às vezes, faço a bordo, utilizando meus conhecimentos de ex-panificador, assim como bolo e pizza. Ficam deliciosos!
Lucia tem feito comidas maravilhosas a bordo, se aventura na cozinha até nos piores tempos. Acho que muito breve daremos adeus as sopas e enlatados de uma vez por todas. Nada melhor do que uma comida quentinha numa velejada com mau tempo. Levanta o moral da tripulação.
Nas nossas primeiras velejadas, sem muito conhecimento, comprávamos bastante comida. O resultado era que ninguém comia nada por causa dos enjôos. Tínhamos que levar para casa o excesso ou distribuir com os marinheiros no clube.
O balanço do mar deixa muita gente sem apetite e fazer comida com o barco balançando é um segredo para poucos.
Os líquidos precisam também de muita atenção no abastecimento.
Água é um bem valioso a bordo. Ela precisa ser bem dimensionada e dosada no consumo, nunca sabemos o que nos espera. No mar não tem fonte de água, nem boteco.
Os sucos e refrigerantes são bem vindos e muito necessários. Refrescam e são fontes de vitaminas, no caso dos sucos. O refrigerante, principalmente o gasoso, faz bem aqueles com problemas de enjôo, porque elimina gases dando certo conforto ao mareado, mas quanto a isso, existem controvérsias.
Bebidas alcoólicas são aceitas com restrições. Nas ancoragens são liberadas, mas navegando, seus efeitos são um problema para a grande maioria, não sendo saudável nem responsável seu uso.
Muitos fazem uso dos conhecimentos de nutricionistas, para o preparo de uma boa alimentação a bordo. O mais importante é que o profissional tenha vivência e muito conhecimento da vida a bordo, para não preparar cardápios incompatíveis com o mar.
Velejadores de regatas transoceânicas e os que fazem grandes expedições necessitam de receitas balanceadas e enérgicas. Muitos contratam empresas para o preparo da alimentação a ser consumida.
Os que moram a bordo ou costumam fazer pequenos cruzeiros, aprendem a lidar com suas necessidades de alimentação, e logo adaptam seus cardápios preferidos com muita racionalidade. Afinal a dispensa do barco é pequena e não tem lugar para excessos.
Nelson Mattos Filho
velejador
Artigo publicado em 2006 no Jornal Tribuna do Norte, coluna Diário do Avoante. A coluna é publicada aos Domingos.

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