domingo, 30 de agosto de 2009

ANTARES, O NAVIO PESQUISADOR


Domingo passado, navegando na lancha Pajumari, do comandante Silzoumar, avistei um navio ancorado ao largo, todo iluminado e muito bonito. Fiquei viajando na imaginação e matutando porque ele não entrou no porto com toda aquela beleza. Seria um bonito espetáculo, para um domingo, a entrada daquele belo navio branco navegando pelo Rio Potengí.
Os navios, assim como os barcos a vela, fazem a gente viajar em sonhos mundo a fora. Esses barcos maravilhosos, dificilmente passam despercebidos quando cruzam o horizonte em suas rotas de cabotagem. Com eles vão à imaginação daqueles que ficam em terra a observar o seu desaparecimento na linha que divide o céu e o mar.
Quantas promessas são escritas na mente daqueles românticos pelas coisas do mar, quando avistam a silhueta daqueles grandalhões de ferro? Quantos casais traçam rotas pelo mundo, na esteira daqueles navios que navegam mansamente em alto mar? Quantos oceanos farão parte do seu destino? O que fazem os felizardos tripulantes a bordo daqueles maravilhosos brutamontes? E os felizes passageiros, que vivem o sonho de uma viagem a bordo de belíssimos transatlânticos? O que fazem?
As coisas do mundo do mar encantam o homem. Esse mundo que abriga seres encantados, belas sereias, reis barbudos e seus tridentes de ouro. Mundo que esconde o imaginário que habitam as cavernas escuras de nossas mentes. Mundo de monstros como os grandes tubarões e polvos gigantes. Mundo em que a lei não muda nunca, se não houver respeito, seremos eternamente condenados. Esse é o mar, que por mais que o homem estude, nunca compreendera sua força e sua grandeza.
O navio branco navegou em meu sonho durante a noite. O que ele fazia eu não consegui descobrir, mas quando acordei, pela manhã, o vi passando ao lado do Avoante em direção ao porto. Era o ANTARES, navio oceanográfico da MARINHA DO BRASIL. O que ele fazia navegando em meu sonho, a partir daí tudo ficou muito claro, pesquisava a mente de um apaixonado pelo mar.
Tinha que ir a ele. Tinha que visitá-lo. Tinha que circular por suas entranhas e me deixar exposto à pesquisa da noite anterior. Eu agora seria o invasor amigo, o pesquisador, aquele que iria fazer parte de sua história. Quem sabe somente da minha história! Mas, barco tem alma e eu entraria em sua alma.
Eu, o capitão de um minúsculo Avoante, vivendo intensamente um sonho náutico, estaria frente a frente ao grande Antares, o coração do escorpião. Aquele que chamou minha atenção quando estava ancorado ao largo e que a noite veio navegar em meu sonho.
Como chegar aquele barco tão vigiado por zelosos marinheiros, que o defenderiam até a morte! Mas, eu era amigo daquele barco, eu era aquele em que ele pesquisou a mente durante a noite, ele sabia que eu iria e eu fui. Pedi ajuda ao amigo e parceiro do mar, Comandante Vasconcelos, Capitão dos Portos do Rio Grande do Norte, um homem do mar e devoto das coisas do mar.
A partir daí, até chegar ao ANTARES foi um pulo. Fui recebido pelo Comandante Luiz Claudio Teixeira Palhota, ou simplesmente Comandante Palhota, Capitão de Fragata da Marinha do Brasil, que juntamente com o Tenente Felipe de Carvalho Garcez, Chefe de Operações do Navio, me deram as boas vindas em nome de toda tripulação.
O que faz o ANTARES por essas águas de Poti? Águas em que já navegaram tantas naus e caravelas. Águas que ainda escondem muitos mistérios em suas profundezas, que talvez o ANTARES, com toda sua parafernália eletrônica, não consiga decifrar.
O grande CORAÇÃO DO ESCORPIÃO realiza uma das fases do projeto PIRATA – Pesquisa Piloto com Rede de Bóias Fixas no Atlântico Tropical. Ele vem do norte do Brasil, dando sua contribuição na vigilância e proteção dos interesses do nosso País no mar, através dos dados coletados por seus equipamentos e sistemas.
Sua permanência em Natal é breve. Daqui ele vai suspender no rumo do Rio de Janeiro, cumprindo sua sina de barco marinheiro e sempre pronto a navegar em suas pesquisas oceânicas. Porém, foi o bastante para mexer com a cabeça desse velejador, a querer sentir o coração do grande ANTARES.
Muito obrigado Comandante Palhota pela permissão e que o mar sempre lhe acolha com carinho.

Nelson Mattos Filho
Velejador
Artigo publicado na coluna Diário do Avoante, jornal Tribuna do Norte, neste domingo 30/08/2009

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