sexta-feira, 14 de agosto de 2009

VIDA A BORDO 11

Estamos na Baia de Camamú e o dia hoje amanheceu com muita chuva, mas nem por isso deixa de ser muito bonito. O conforto da cabine do Avoante é gratificante nessas horas de frio e chuva.
Em Camamú, o clima sofre muita influência das frentes frias que avançam desde o sul do Brasil e sobem à costa.
Toda essa chuva não faz muita diferença, para nos que moramos a bordo, ela é muito bem vinda. Aproveitamos para colocar as coisas em ordem e também coletar água de chuva para abastecer nosso tanque de água. O mais é, relaxar e apreciar o tempo.
O gosto pela vela de oceano se divide em três opções:
As regatas, que são muito eletrizantes e vibrantes, mas que requer alto investimento, porque os barcos se tornam obsoletos muito depressa. Sempre surgem novos projetos leves e rápidos, devido aos materiais empregados, como a fibra de carbono. Muitos chegam a atingir, no contra vento, mais de 20 nós de velocidade. São verdadeiros formula 1 da vela.
Os velejadores de final de semana, que não dispõe de muito tempo e por isso curtem pequenos passeios e boas conversas nos cockpit. Esses sempre estão sonhando com um cruzeiro mais longo.
E os cruzeiristas, que estão sempre à procura de novas aventuras em pequenas ou longas travessias. Sempre procurando um lugarzinho gostoso e paradisíaco para ancorar.
Nós optamos pela vela de cruzeiro, pela possibilidade de ter uma vida diferente, muita liberdade e um pouco de aventura.
Existe também satisfação em trabalhar no barco. A manutenção e uma constante, pois não podemos abrir mão da segurança. Nunca sabemos o que iremos encontrar na próxima milha.
O tempo para velejar também é importante para o velejador de cruzeiro. Não podemos ter compromissos inadiáveis, nem está ligado em data importante junto à família, o que faz muita gente desistir antes de partir. Não podemos esquecer a família nem os amigos, mas a vida sempre continua e no retorno, vemos que tudo continua em seu lugar.
A tripulação é outro fator de extrema importância para um bom cruzeiro. Precisamos escolher com muito cuidado os companheiros, isso e determinante para tornar o cruzeiro agradável. No Avoante somente eu e Lucia. Raras vezes temos a companhia de um amigo ou gente da família, mas convite é que não falta.
O dinheiro não faz muita diferença. Sempre é bom, mas não essencial. A maioria dos velejadores estrangeiros que conhecemos, não tem muitos recursos. Muitos vendem casa, comercio ou propriedades e saem de barco pelo mundo. Alguns voltam aos seus paises para trabalhar, juntar algum dinheiro e retomar a viagem.
Não existem ricos nem milionários, porque estes não largam seus castelos por nada. Estão presos nas redes por eles mesmos criadas.
Hoje já existe muita gente que em vez de casas de praias ou sítios, investem em um barco e curtem suas férias ou finais de semana a bordo, sempre em uma praia diferente.

No Avoante, não somos diferente de outros velejadores, vivemos muito bem com trabalhos realizados a bordo ou trabalhando nos locais de ancoragem. Não é muito, mas da muito prazer e muita liberdade.
Um bom barco é o mais importante num cruzeiro, porque sem ele nada disso existe. Ele tem de ser forte e seguro, com equipamentos de segurança em ordem e prontos para uso.
No mar somos muito pequenos, pegamos vários tipos de mar e de tempo, ter confiança no barco e nos equipamentos é muito importante.
Não interessa o tamanho do barco. Encontramos barcos de até 19 pés fazendo volta ao mundo. Como diz o ditado “Tamanho não e documento”.
O Avoante é um barco que tem dado muitas alegrias, apesar de ser um projeto antigo, ele é seguro e muito confiável. Ideal para nosso projeto de vida e confortável para até 5 pessoas. Como somos 2, sobra espaço.
Nesse dia chuvoso na Baia de Camamú, ele tem nos aconchegado muito carinhosamente.

Nelson Mattos Filho
Velejador
* Artigo publicado em 2006 no jornal Tribuna do Norte - coluna Diário do Avoante. A coluna é publicada todos os domingos.

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