quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

VIDA A BORDO 32

Para começar um cruzeiro a vela, precisamos estar muito bem consciente dos nossos objetivos e de como lidar com as adversidades que encontraremos pela frente.
Muitos começam um cruzeiro e desistem bem antes de concluírem o roteiro escolhido, outros nem saem dos portos, achando que não era bem isso que queriam ou que não valia sacrificar o conforto que tinham em terra em busca de uma vida cheia de aventuras e de harmonia com aos elementos da natureza. Alguns investem todas as economias ou grande parte delas, em prol de construir um barco e dar uma volta ao mundo, cheio de sonhos e romantismo. Outros já tendo o barco, resolvem embarcar junto com a família ou sozinhos, após alguns dias a bordo, tendo de viver em espaço tão resumido e alguns problemas que surgem, abandonam o sonho, o projeto, desembarcam e ficam há ver navios. As historias são muitas e todos acham uma razão para o abandono, mas, no fundo da alma, estão sofrendo pelo abandono de um sonho que já estavam realizando.
Achar que pode realizar um cruzeiro, muito velejador acha. É ótimo sufocar os problemas acumulados durante a semana, usando o barco como refugio, e no final do dia, encostar o barco no clube, ir para casa, sonhar em um dia poder morar eternamente no barco e conhecer o mundo com uma vida maravilhosa e jogar os problemas para o alto. Alguns pensam em mudar radicalmente de vida, mas sem abdicar de alguns confortos, como: televisão, internet em casa, chuveiro quente, ar condicionado, ar quente, cinemas e shoping Center. Mas,quando se vêem dentro de um barco, sem muitos desses confortos, ancorados ao largo das marinas ou clubes, tendo de descer para a terra em pequenos barcos infláveis, molhando a bunda os pés ou os calçados, usando banheiros coletivos nas marinas, tendo que se deslocarem nas cidades de ônibus, táxis ou a pé, para fazer compras em supermercados ou simplesmente passear. Alguns ficam em estado de apatia, depressão e revolta, com tudo e com todos a sua volta. Eles não conseguem absorver o espírito da vela, que tem a simplicidade, liberdade e humildade como bandeiras.
Os problemas se agravam com o desgaste que o barco sofre e que exigem manutenção. Muitos acham que barco novo não tem defeito. Um tremendo engano, que tem feito muitos velejadores passarem apuros no mar. O barco pode ser novo ou antigo, todo ele apresenta defeitos e requer manutenção.
O orçamento de um cruzeiro a vela muitas vezes é apertado e requer muita disciplina nos gastos com marinas, passeios, restaurantes e supermercados. Quando as quebras começam a acontecer e o velejador já esta deprimido com outros fatores e ainda mais com a grana encurtando, significa a gota que faltava no oceano para o abandono da viagem. A partir daí cria-se um circulo de incertezas e insatisfação, que levam o velejador muitas vezes ao sentimento de revolta. Ele que tinha fugido de um problema em terra, conseguiu outro no mar e retornou para o mesmo problema que ele achava que tinha em terra, agora acrescido de outros, com cobrança por parte da família e dos amigos, tendo de achar o resultado de qualquer maneira e sem nenhum horizonte.
À volta ao mundo de veleiro é um sonho de muitos velejadores e de varias pessoas que admiram navegação ou vêem o mar com romantismo. As ilhas desertas e as praias isoladas e selvagens, já fizeram parte da imaginação de varias gerações no mundo e continuaram fazendo. É muito fácil fazer uma volta ao mundo, o difícil é a adaptação ao mar, ao barco, ao tempo que se dispõe e ao orçamento que precisa ser muito bem planejado. Antes da sonhada volta ao mundo, o melhor é fazer pequenos cruzeiros pela costa do Brasil. O importante é passar um período de adaptação, alugando um barco para morar a bordo, para aquele que não possui barco, por pelo menos um mês e não apenas para um pequeno final de semana. O mesmo vale para quem já têm barco, passar uma temporada morando a bordo e analisar todos os pros e contras da nova vida.
Embarcar num cruzeiro a vela requer o espírito livre, muita simplicidade e humildade para aceitar as coisas boas e ruins com muito bom humor, perseverança e boa dose de paciência. Apreciar um bate-papo descontraído, jogar conversa fora com os amigos, aceitar o ócio de alguns dias, curtir um gostoso e imprevisto banho de chuva, o contato íntimo com a natureza, a beleza e magia das fases da lua, presenciar a explosão de vida do nascer do dia e se encantar com o pôr-do-sol, admirar a agilidade dos golfinhos, a beleza dos peixes, o vôo das aves marinhas em alto mar e sentir a vida pulsante do mar. Velejar é um estilo de vida, aonde o simples e o natural se manifestam nas formas mais belas e o mar é o mundo aonde toda essa beleza acontece com muito encanto e magia.


Nelson Mattos Filho
Velejador

3 comentários:

  1. valeu a dica, vou rever meus conceitos ..........


    um abraco

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  2. dar a volta ao mundo, nao faz parte dos meus sonhos, apenas a costa brasileira , pois me falta experiencia....depois do seu relato, vou pensar melhor....mas desistir nao.......ainda estou a procura de um barco para morar........bons ventos.valeu

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