sábado, 24 de outubro de 2009

VIDA A BORDO 21

* Artigo publicado em 2007 na coluna Diário do Avoante - Jornal Tribuna do Norte. A coluna é publicada aos Domingos.
Ancoramos na Ilha de Campinho, Baia de Camamú, num dia ensolarado de Janeiro. A tripulação era Eu, Lucia, Manoel, Pedrinho e Lucinha. Ao anoitecer, Lucia teve uma idéia muito luminosa, ou melhor, bem escura. Vamos comer PIZZA!. Eu adorei o convite e os outros apesar de não gostarem muito de pizza concordaram de pronto.
Desembarcamos, deixamos o inflável no píer do Sitio Sábia e fomos nos aventurar na pizza.
A pizzaria ficava a margem do Rio Carapitangui, um pouco distante de onde estávamos. Começamos bem a caminhada pela estrada de Campinho que leva a Ponta da Ingazeira, a vila central da ilha. Após andarmos 1 km, perguntamos qual o caminho para a pizzaria Matatauba, o nome bem sugestivo. O homem olhou para todos e falou: “sigam em frente e daqui a 500 metros virem à direita e vão em frente até encontrar um fogo...”. “É longe...?” perguntou Manoel, “não e logo ali, uns 3 quilômetros!” Todos se entreolharam e Lucia sentenciou, “vamos que estou com fome...”. A estrada era uma trilha estreita, escura e com muita areia. Como era noite de lua nova, a escuridão era total, ouvíamos apenas os grilos, sapos e corujas. Manoel dizia: “essa pizza tem que ser muito boa”. Pedrinho somente ria e Lucinha sempre concordando com Lucia, incentivava o grupo de aventureiros e eu pensava: “esse negocio não vai dar certo...”.
A trilha passava por lugares fantasmagóricos e misteriosos, e nem sinal de pizzaria, gente ou luz de fogo. Andamos cerca de hora e meia pela mata até avistamos tochas acesas por entre arvores. O medo foi grande, mas continuamos e seguimos as tochas num túnel de mato e arvores por mais meia hora. Um cachorro nos abordou e então chegamos à bendita pizzaria às 22 horas.
De clientes apenas nos cinco e os mosquitos, porque a pizzaria fica na beira do rio e as mesas colocadas ao ar livre embaixo de arvores no meio da mata.
Pedimos as pizzas e como sugestão para os que não comiam queijo a garçonete indicou pizza de alho, Manoel adorou a idéia. As pizzas para mim estavam uma delícia. Lucia adorou que repetiu várias vezes, Lucinha comeu com restrições. Pedrinho e Manoel que não gostavam de queijo e depois descobriram que também não gostavam de alho, nem provaram.
A volta foi de lamentações de Pedrinho e Manoel. Eu, Lucia e Lucinha riamos muito, nos divertindo com as reclamações. Manoel, até hoje não aceita convites, principalmente de Lucia, para comer pizza.
Fora este pequeno incidente, a ancoragem na Ilha de Campinho foi muito agradável. Aquele lugar é um dos mais bonitos do litoral baiano. Tudo ali transmite muita paz e harmonia. Era nosso primeiro contato com aquele lugar mágico.
Ali o tempo é medido pela maré alta e baixa. E com ela aprendemos que o stress da vida moderna é uma coisa tão mesquinha que não cabe naquele universo de beleza e vida renovada constantemente.
Os pássaros voam livres. As arvores frutíferas são de uma bondade tão grande que seus frutos adoçam o mais exigente paladar. Os peixes e mariscos são apanhados diariamente e pegos apenas para o consumo diário. A fartura e muito grande. Mas apesar desse clima de harmonia, o homem já conseguiu acabar com os caranguejos que existiam em toda a região, restando poucos sobreviventes dessa espécie. As proibições de captura do caranguejo são apenas falácias de burocratas e os órgãos responsáveis pela sua preservação fecham os olhos diante dos abusos.
Acordar e dormir apreciando a vida que corre a ritmo lento e natural na Baia de Camamú é um presente para nossa alma. O pôr-do-sol é um espetáculo grandioso de luz, cores e formas. O brilho das estrelas é contagiante e o nascer do dia faz desabrochar um mundo iluminado de paz e vida.
Perguntam-me porque falo tanto na Baia de Camamú, eu respondo com uma interrogação: “você já foi a um lugar mágico?”.
Camamú me fascinou como fascinou Lucia. Vivemos os melhores dias de nossas vidas nesse paraíso encantado de paz, amor e vida. Até acontecimentos como a aventura para comer pizza é degustado com muito boa vontade e alegria de ter vivido aquele momento delicioso.
Tenho um encontro já marcado com a Baia de Camamú no meu futuro, espero que seja para breve.
Bons Ventos!

Nelson Mattos Filho

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