quinta-feira, 3 de setembro de 2009

VIDA A BORDO 14

Ainda estamos na Baia de Camamú/BA é muito difícil sair desse paraíso, tudo é muito bonito. A cada dia descobrimos lugares maravilhosos.
Fomos até a cidade de Maraú, numa velejada de 22 milhas pelo Rio Marau. A navegada é de lavar a alma e encher os olhos.
O Rio Maraú é todo margeado por manguezais, com alguns vilarejos e várias ilhas ainda em estado primitivo.
As ancoragens são fantásticas e super abrigadas. Ancora-se em locais desertos numa completa interação com a natureza.
A ancoragem mais fascinante fica entre as ilhas Germana e Tatus, parece que estamos sozinhos no mundo. A luminosidade das estrelas é tão intensa que as mais brilhosas refletem na água. O lugar é muito isolado, muito lindo e mágico.
Ao longo do rio, existem várias ancoragens a serem descobertas, bastando que se jogue a ancora, após uma curva ou pequenos braços de rio e aprecie as belezas.
O peixe ou frutos do mar não são difíceis de conseguir. Se não quiser ter o trabalho de pescar ou catar alguns mariscos, basta esperar algum pescador em sua canoa de tronco e adquirir peixes. Muitos doam ou trocam por alma coisa, são super gentis e simpáticos.
O Rio Marau, tem um canal com profundidade que varia de 2 a 29 metros, não existe muita dificuldade no percurso até a cidade de Marau. O melhor é pegar a maré de enchente, para aproveitar sua força e facilitar à subida.
A força da maré de vazante, principalmente nas marés de lua, é significativa. Afinal estamos na terceira maior baía do Brasil, o volume de água é muito grande.
A cidade de Marau recebeu este nome de uma tribo de índios que habitavam a região, chamados de Mayrahú.
Os primeiros habitantes chegaram em 1705 e logo exterminaram os índios. Hoje não encontramos seus dependentes e sabe-se muito pouco de seus hábitos e costumes.
Maraú tem uma população de pessoas simples, apenas 15% da população vive na área urbana, são pessoas que acolhem os visitantes com muita alegria.
Muitos ainda acreditam em lobisomens, caiporas e boitatás. As estórias são contadas com tantos detalhes e seriedade que ficamos tentados a acreditar
Maraú tem um pequeno píer apenas para embarque e desembarque, não sendo permitida a permanência. Ancora-se próximo ao píer ou na margem oposta, tudo na maior segurança e tranqüilidade.
Nesse percurso de Campinho a Maraú, com suas 22 milhas, à vontade é de fazê-lo em vários dias ou meses, aproveitando as belezas desse recanto. O que nos impede de ficar é que sabemos que ainda temos muito a conhecer desse litoral, mas com certeza, voltaremos a esse paraíso baiano.
Essa é uma das vantagens da vida a bordo de um veleiro. Nosso quintal muda de acordo com nossa vontade. Nunca temos vizinhos indesejáveis, nem barulhentos. Assim que surgem essas ameaças, levantamos ancora e mudamos o barco de posição.
Podemos escolher entre várias nossa próxima praia, se gostamos podemos ficar ou voltar um dia com nossa “casa” flutuante.
A liberdade que temos a bordo é indescritível. No mar um destino tem várias rotas, o navegante tem a liberdade de fazer a sua com toda a segurança. Ele pode mudar tudo no meio da viagem e seguir o rumo de sua proa, somente ele decide.
Na vela de cruzeiro não navegamos contra o tempo, navegamos a favor.
Navegamos contra os ventos e correntes, porque estes são nossos desafios para alcançar algum destino.
A única coisa de que não abdicamos é a segurança, esse sim o fator principal de toda liberdade no mar.
Navegar por paraísos como o Rio Maraú é muito gratificante a alma, mais se temos conhecimentos náuticos e de preservação ambiental ou se estamos com a embarcação em boas condições de navegabilidade, a vida se torna mais livre e segura.

Nelson Mattos Filho
Velejador
* Artigo publicado na coluna Diário do Avoante-jornal Tribuna do Norte, em 2006. A coluna é publicada todo domingo.

3 comentários:

  1. Fico feliz em saber que você está aproveitando este momento e que está tudo bem. Vamos nos encontrar em Noronha se Deus quiser.

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  2. Fui eu que postei sem colocar o nome Nelsão!

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  3. Beleza Bira, muito obrigado por participar ativamente desse nosso blog. Com certeza estaremos em Noronha, aquele pequeno pedaço de paraíso no nosso Brasil.

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