segunda-feira, 1 de junho de 2009

VIDA A BORDO 05



A Baia de Camamú, com todos seus encantos foi ficando para traz com muita saudade. Saímos às 13 horas de uma segunda-feira. Vento brando e correnteza contra, sabíamos que não seria uma velejada boa, mais não imaginávamos que seria tão cansativa. Afinal são apenas 62 milhas que separam Camamú de Salvador. Fomos deixando a Ilha de Campinho, a ponta da Ingazeira, a Prainha, Barra Grande, ponta do Mutá e a Ilha de Quiepes, a maré estava de vazante o que dificulta um pouco a saída de Camamú, a vazão de água é grande e no encontro com o mar formam-se muitas ondas. Dependendo do vento, isso passa a ser um problema maior, como o vento estava brando, tivemos apenas um breve desconforto.
Ajustamos o rumo em direção ao Farol da Barra e fomos curtir a bela paisagem da costa. Saímos com as velas todas em cima. À tardinha tivemos um belo pôr-do-sol com a lua cheia saindo logo em seguida. Duas coisas boas de apreciar no mar!
Como tudo no mar e incerto, às 10 horas da noite o vento rodou para nossa proa e a correnteza ficou mais forte, chegando a 3 nós de velocidade. Velejar contra o vento e corrente é coisa complicada para cruzeirista que gosta de vida boa. O Avoante deslizava a apenas 2 nós de velocidade, somente a vela. Como não tínhamos previsões de chuva, resolvemos seguir assim mesmo devagar até o dia clarear.
Saímos 15 milhas da costa, ligamos o piloto automático e fomos curtir a noite e aquela lua maravilhosa. Às 2 da manha o piloto automático deixou de funcionar, nos forçando a assumir o leme e passar o resto da noite trabalhando. Estávamos muito longe da costa, não conseguíamos avistar terra, nem o farol de Morro de São Paulo conseguíamos ver seus lampejos. A correnteza continuava forte e o vento não mudava. Ligamos o motor para ajudar e seguir mais rápido, mesmo assim, não conseguíamos fazer nem 5 nós de velocidade. Nosso motor, apesar de muito confiável, não tem velocidade. Ao amanhecer começamos a aproximação da costa, foi ai vi à grande besteira que tinha feito. A correnteza próxima a costa estava bem menor e o vento estava melhor, mais como tudo na vida é um aprendizado e no mar, conta muito os ensinamentos da natureza, nada de reclamar da sorte, pois não tínhamos hora marcada nem compromissos inadiáveis. No mar você tem de relaxar e curtir os elementos da natureza, mas sem descuidar da segurança.
Avistamos Salvador após 24 horas de velejada. Avistar é uma coisa e chegar é outra. Seguimos em frente lutando contra a corrente e o vento. Entrar na Baía de Todos os Santos com a maré vazando é outro problema. O volume de água na vazante é grande e a correnteza chega a mais de 4 nós de velocidade. Aceleramos o motor a toda força para poder avançar e mesmo assim tivemos dificuldades. A chegada a Salvador, pelo mar, é muito bonita com o Farol da Barra a nos dar boas vindas à terra dos orixás. Tudo muito mágico e alegre. A praia da Barra sempre cheia de turistas, as encostas do corredor da Vitória, o elevador Lacerda com sua imponência, o forte de São Marcelo com sua beleza colonial, o Mercado Modelo com suas cores e lá no alto a Praça Municipal com seus palácios contrastando com o moderno prédio da prefeitura e suas linhas futuristas. Do lado oeste, a Ilha de Itaparica com sua beleza e suas praias cheias de encantos.
Salvador tem uma infra-estrutura náutica muito boa, são várias marinas que oferecem bons serviços e ancoragem segura. O Governo do Estado tem investido muito no turismo náutico. O Centro Náutico da Bahia (CENAB), uma ONG apoiada pelos Governos Estadual e Municipal, além de ter uma marina muito bem estruturada, criou várias bases que dão suporte ao navegador em todo litoral baiano. Essas bases são conhecidas por BAN, Base de Apoio Náutico. Hoje já são mais de 35 BAN’s no estado, a cada 20 milhas encontramos uma para dar apoio e informações daquela região. Editaram um Guia Náutico, com todas as rotas possíveis para se fazer uma navegação em segurança, como também os pontos de ancoragem em cada praia ou recanto. Esse material tem divulgação dentro e fora do país. O Guia é procurado por todo velejador estrangeiro que vem ao Brasil, criando um fluxo de barcos em Salvador que gera grande fonte de renda, para a alegria do comercio e dos cofres públicos. Somente no CENAB, mensalmente, ancoram em média 60 barcos, entre estrangeiros e nacionais. E saibam que existem mais de seis marinas somente na Capital.
Depois de 27 horas de velejada, muito tempo para poucas milhas, ancoramos em Salvador, tomamos um banho e fomos descansar na noite do Pelourinho, tomando uma cerveja bem gelada, porque ninguém é de ferro.
NOTA: As informações sobre o CENAB e as BAN's contidas nesse artigo publicado em 2005, infelizmente já fazem parte de um passado distante. Hoje, 4 anos depois, pude presenciar o desmonte, inconsequente, de uma bela infra-estrutura para dar apoio ao turismo náutico no litoral baiano e que poderia servir de base para ser implantado em todo litoral brasileiro. Uma pena!

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