terça-feira, 23 de junho de 2009

VENTOS DE INVERNO

* Artigo publicado na Tribuna do Norte - coluna Diário do Avoante - domingo 21/06/2009
Eles chegaram! Os ventos sul e sudeste, chegaram e parece que com bastante vontade de soprar. Com eles chega o período que é um verdadeiro paradoxo para os amantes da vela em Natal.
Veleiro anda bem com vento e quando o vento é franco, como esses alísios que varrem nossa costa e nossas praias, ai sim, que os barcos deveriam estar na água aproveitando a bondade da natureza.
Porém, é justamente nesse período, que os veleiros são enfurnados nas marinas e que vemos velejadores apreensivos com algumas rajadas acima dos 15 nós. Sei que velejar é um ato de prazer e muitas vezes, quando o vento é muito forte, a coisa fica complicada, mas velejar num través ou empopada, com um mundão de vento empurrando o veleiro veloz sobre a água, é uma das coisas mais gostosas da vela.
O litoral do Rio Grande do Norte é excelente para esportes a vela. Esse regime de ventos alísios, que arrepia dunas, enrosca cabelos e alivia com uma temperatura gostosa o calor Potiguar, traria enormes vantagens se fossem bem aproveitados pelas áreas do Turismo e Esporte. Uma boa divulgação e um bem elaborado calendário náutico-esportivo colocariam o Rio Grande do Norte na rota de grandes regatas nacional e internacional.
Mas, já que não temos essa tendência político-administrativa, nem boa vontade governamental para velejar e aproveitar os bons ventos que sopram em nossa costa, a não ser os que movem as turbinas eólicas de grandes conglomerados financeiros, o melhor a fazer é, içar nossas pequenas velas e tirar uma casquinha do sopro do grande Éolo.
Eu já estava acostumando com a boa vida das velejadas pela Bahia, onde os ventos são mais fracos. Mas, esse período em Natal, onde o Avoante descansa sobre águas do Potengí, com o vento Sul assanhando as ondas da barra e fazendo a alegria dos coqueiros, com palhas verdinhas bailando nas alturas, esta sendo muito tranquilo.
Depois que retornamos, ainda não saímos barra a fora. Não por causa dos ventos, mas sim porque o Avoante é um barco-casa, sair apenas para fazer um pequeno passeio, demanda muita mão-de-obra a bordo. Uma pequena regata que participamos no Rio Potengí, ainda esta sendo motivo de muita coisa fora do lugar.
Vento do quadrante sul pode até ser forte, mas hoje não ficamos intimidados com ele. Aprendemos que não se briga contra o vento, fazemos dele um aliado, e para o velejador, vento bom é vento soprador. Precisamos desmistificar essa história de que em vento forte não se veleja, muito pelo contrário.
Um dia ouvi de um velejador que o vento estava forte e ele achava que não dava para velejar. E se estivesse sem vento dava?
Começamos na vida náutica, navegando sob um mês de Agosto com muito vento e sem trégua. Pode ser que eu não tenha a experiência nem o conhecimento de muitos velejadores, mas isso foi de grande valia para essa nossa vida de cruzeirista.
Para mim, o pior não são os ventos, e sim o mar agitado e com ondas estourando sobre o convés. Mas, como não navegamos com compromissos e hora marcada, quando esses fatores se alinham, o melhor a fazer é relaxar e esperar a coisa melhorar.
Amigos e conhecidos que nos visitam no clube, sempre perguntam como é ficar num barco com essa chuva que caiu em Natal. Eu não vejo problema algum, apenas temos que ficar com o barco fechado e aguentar um pouco de calor, mas nada que seja desgastante.
Como essa é nossa realidade e faz parte da adaptação de todos que pretendem morar em um veleiro, chuva, vento, sol e mar são os elementos da natureza que temos que aprender a decifrar e tirar o melhor resultado possível.
Vários confortos que estávamos acostumados em terra, num barco se tornam grandes utopias. Porém, a falta de determinadas coisas não são empecilhos para se desistir no meio de uma navegada.
A chuva faz parte. O vento faz parte. O banho de água salgada no meio da madrugada faz parte. O sol no rosto faz parte e até certo desconforto também faz parte.
Portanto, se tem muito vento e muita chuva, o melhor a fazer é rizar as velas e prosseguir velejando.

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