segunda-feira, 25 de maio de 2009

VIDA A BORDO 04

Cada velejada tem um sabor diferente, de um dia para o outro muda todo o cenário de mar e vento. Nossa ida a REFENO em 2003 foi marcada pelas várias tentativas para sair de Natal e com os problemas enfrentados no percurso Natal-Recife. Em 2004 mais uma vez estávamos prontos para participar dessa regata, com a experiência acumulada do ano anterior. Dessa vez, a perna Natal-Recife, foi uma velejada super tranquila, nada de velas rasgadas, nem problemas mecânicos, fizemos um ótimo tempo e chegamos num astral elevado.
O grande número de barcos participantes surpreendeu a todos, eram mais de 140 inscritos, uma festa das melhores, muita alegria, muita confraternização e muita organização. A largada, com essa quantidade de barcos, ocorreu sem problemas, porque os barcos são divididos em classes, saindo cada classe com 20 minutos de diferença uma da outra, a partir do meio dia do sábado. Nossa largada se deu num clima de tranquilidade é com vento muito fraco. Lucia aproveitou até para fazer um arroz carreteiro durante os procedimentos de largada.
Após duas horas da largada o vento soprou mais forte e o mar ficou agitado, da nossa tripulação de 6 pessoas, Eu, Lucia, Airton, Jorge Rezende, China e Joaquim, 4 ficaram nocauteados pelos enjôos, sobrando apenas eu e o Airton para tocar o barco. Fizemos turnos de 2 horas, às vezes até mais. A primeira noite de mar, apesar do vento forte, foi super tranqüila. Nossas preocupações eram com os espinhéis dos barcos pesqueiros quando alcançamos trinta milhas da costa. Os cabos das redes engancham na quilha, leme ou mesmo no hélice, mais felizmente não tivemos problemas. Alguns barcos participantes tiveram sérios problemas com os espinheis.
A noite era de lua cheia e ela veio fazer parte desta festa nos presenteando com sua beleza. No dia seguinte, a tripulação voltou aos poucos ao batente, já conseguíamos mais gente para fazer turnos, pois os enjôos foram passando e as brincadeiras começaram a rolar.
Eu tinha escolhido uma rota mais ao sul em relação à ilha, para a viagem ficava mais tranquila e mais conforto a bordo, pois o vento não estava para brincadeiras. Essa escolha foi a mais sensata, apesar de sacrificarmos um pouco nosso tempo. O barco ficou mais estável e passamos a andar mais rápido para alegria de todos. Somente quando estávamos a 100 milhas da ilha é que voltamos à rota direto para a Ponta da Sapata, ponta da ilha que tem seu formato bem parecido com um sapato.
Nossa segunda noite de mar, a tripulação achou de descansar, alguns usaram a desculpa dos enjôos, apenas eu e o Airton ficamos no batente dividindo os turnos no timão. Lucia ficava coordenando o tempo, já que não conseguia dormir. Lucia tem um capitulo a parte nessas viagens a Fernando de Noronha, e que ela só enjoa duas vezes, uma para ir outra pra voltar, mesmo assim não larga o barco nem de brincadeira. A noite foi tranquila, apesar do vento não diminuir, fazíamos uma media de 6 a 7 nós de velocidade. Víamos apenas duas ou três luzes de outros barcos muito distantes. Apesar da grande quantidade de barcos participantes, cada um faz rumo diferente o que dificulta a visualização. A comunicação é feita somente através de rádio, às vezes nem assim.
Na manhã da segunda feira começou a expectativa da chegada. A tripulação acordou bem disposta e todos tentavam fazer alguma coisa. Os turnos fluíam normalmente. As brincadeiras e as conversas faziam o tempo passar rápido. À tarde por volta das 13 horas avistamos a ilha e a alegria foi geral, cruzamos a linha de chegada às 17 horas. Ancoramos, fizemos uma pequena arrumação no barco, tomamos uma sopa preparada por Lucia e dormimos o sono dos justos.
Fernando de Noronha é uma festa durante o período da regata, segundo comentários dos ilhéus, é a maior festa da ilha depois do ano novo. São em torno de 1800 pessoas, divididos entre tripulantes, organização, familiares e amigos, que vão de avião para as comemorações e entrega dos prêmios. A festa da entrega dos prêmios, e uma comemoração ao ar livre no mirante do porto, com jantar para os participantes e show com entrada franca aos ilhéus, criando um clima harmonioso e divertido.
A partir da quinta feira começam os preparativos de retorno, como nosso destino era Natal, nossa saída foi no Sábado, portanto, tínhamos mais alguns dias de tranquilidade para caminhadas, banhos de mar, curtir a noite nos barzinhos, palestras do IBAMA, ver os golfinhos, fazer mergulhos, observar os pássaros ou simplesmente sentar no alto de uma pedra e curtir a paisagem. Fernando de Noronha é realmente um paraíso para os que gostam de tranqüilidade e vibram com os encantos da natureza.
Para os que pretendem participar dessa regata, mesmo sem ter embarcação, é só entrar em contato com o Iate Clube do Natal ou ir direto ao site do Cabanga Iate Clube, e se inscrever como tripulante em algum veleiro. Uma coisa eu tenho certeza: É uma viagem fantástica!


Nelson Mattos Filho

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