sábado, 16 de maio de 2009

VIDA A BORDO 02

VIDA A BORDO 02


No ano de 2003 resolvemos participar da regata Recife-Fernando de Noronha, uma das maiores competições náuticas do país, com uma média de 100 barcos inscritos. Preparamos o barco com uma antecedência de 6 meses, que é um bom tempo para revisar tudo, com muito cuidado, e não termos muitas surpresas desagradáveis no mar. O barco precisa estar muito bem equipado com todos os equipamentos de segurança e salvatagem em perfeitas condições de uso e em numero suficiente para toda a tripulação, afinal de contas enfrentaremos 300 milhas, em torno de 580 quilômetros, de mar aberto. Apesar de contarmos com o apoio da Marinha do Brasil, que destaca dois navios patrulhas para acompanhar todo o percurso da regata, como também da Capitania dos Portos de Pernambuco, que faz uma minuciosa vistoria nos barcos participantes, todo comandante é o responsável direto por sua embarcação e pelo bem estar dos seus tripulantes. Então todo cuidado e zelo por sua embarcação devem ser observados com esmero.
Apesar de todo cuidado tínhamos um problema, que era levar o barco de Natal para Recife, uma velejada que dependendo do vento seria muito cansativa e demorada. Como estávamos em pleno mês de setembro com ventos vindos do sul e sudeste e com uma intensidade muito forte, isso ia ser bem mais difícil porque o vento viria pela nossa proa, quer dizer vento contra. Mas, não tinha outro jeito tínhamos que ir, já tinha feito inscrição e a regata sairia em poucos dias. Montamos a tripulação com 5 pessoas a bordo, Eu, Lucia, Cláudio, Pedrinho e Lucinha. Saímos de Natal numa segunda-feira, por volta das 6 horas da manhã, assim que saímos na boca da barra já sentimos o drama, mais da metade da tripulação estava sofrendo com os enjôos, inclusive o capitão. Em frente à Ponta Negra, com vento contra muito forte e o mar muito virado, o moral da tripulação lá em baixo, sentimos um estouro, e lá se foi à vela grande rasgada na costura, recolhemos a vela e tentamos prosseguir quando escutamos outro rasgo e lá se foi à vela genoa, que é a vela da frente. Avaliamos a situação e em vez de trocar as duas velas, resolvemos voltar para Natal e reparar os estragos.
Após três dias de trabalho e com as velas reparadas, voltamos ao mar com a tripulação bem reduzida. Da primeira, apenas eu e o Pedrinho, embarcou nosso amigo Freitas. Saímos de Natal às 23 horas de uma quinta-feira, o vento e o mar já estavam bem melhores, com o vento vindo de sudeste andávamos bem, por volta de 9 horas da manhã estávamos em frente à Tibau do Sul quando ao dar um bordo sentimos que os cabos de aço que movimentam a roda de leme quebraram. Colocamos a cana de leme de fortuna e retornamos mais uma vez para Natal. Mais um dia de serviço e tudo organizado novamente, o Freitas desembarcou e embarcou o Marcelo China. Retornamos ao mar no domingo às 7 horas da manhã e fizemos um pacto que não teria volta, não teve mesmo, mais em compensação o vento já estava bem mais forte o mar mais agitado e Eu e o Pedrinho super cansados, mais fomos assim mesmo, gastamos 82 horas de velejada até Recife, um recorde negativo de tempo, mas quando se veleja estamos sujeitos a vários fatores e nunca uma velejada é igual à outra.
Cumprimos nossa missão apesar de mais uma vela rasgada, muita chuva, muitos banhos de água salgada na cara e nenhum peixe no anzol.
A largada para Noronha se aproximando, arrumamos o barco, consertamos a vela rasgada, fizemos a vistoria com a Capitania dos Portos de Pernambuco e fomos descansar para esperar a tripulação que iria para a regata. Eu, Lucia, Pedrinho, Lucinha e Flavio Alcides.
Largamos num sábado ao meio dia, com vento bom e mar um pouco agitado, logo que saímos na boca da barra de Recife, o vento diminuiu e tivemos de trocar a vela genoa por outra maior, até a noite trocamos mais duas vezes de vela. Fizemos, apesar do trabalho com as velas, uma velejada muito boa, nosso tempo não foi dos melhores, mas curtimos muito essa travessia ate o arquipélago. Não pretendíamos ganhar regata, queríamos participar e chegar à ilha com a tripulação em segurança e o barco em ordem. Valeu nosso esforço com a manutenção, não tivemos nenhuma avaria durante a travessia e a tripulação com saúde, esse foi nosso maior premio. Chegamos à Ilha na segunda-feira, depois de 52 horas de velejada, todos a bordo num astral muito alto e apreciando as maravilhas do arquipélago que são fantásticas. Arrumamos o barco e desembarcamos para a melhor parte: Confraternizar com todos que participaram da regata e passar uma semana naquele paraíso.


Nelson Mattos Filho

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