segunda-feira, 18 de maio de 2009

VIDA A BORDO 03

Hoje falaremos um pouco da Baia de Camamú, um lugar muito especial que superam expectativas mais otimistas. Além de muito lindo, preserva muito da cultura local e da boa receptividade baiana.
São muitos povoados, diversas ilhas, muitas delas desabitadas, grandes áreas de mangue, muita paz e tranqüilidade. A comida na sua grande maioria a base de peixe, crustáceos, mandioca e feijão, tudo em forma de moqueca.
Lá se faz moqueca de tudo, ovo, fruta pão, caju, banana, manga, pão e até de coisas do mar. Tudo cozinhado a base de muito dendê e leite de coco. As frutas são de uma fartura impressionante, manga, caju, goiaba, cajarana, cajá, jaca, banana (uma penca um real), biri-biri, fruta pão, carambola e outras mais. Tudo colhido na hora.
Os transportes entre os povoados e ilhas são feito através de barcos. Existe vários toque – toque, que fazem linhas a partir das 4 horas da manhã até o anoitecer.
O lugar mais conhecido e já totalmente invadido pelo turismo e Barra Grande, que fica na entrada da baia, de quem vem pelo mar, fica localizado na península de Maraú, tudo que fica do lado leste pertence ao município de Maraú e tudo que fica do lado oeste pertence ao município de Camamú. A cidade de Maraú fica localizada no fundo da baia, a quase 20 milhas rio adentro, é uma cidade pequena, porém aconchegante.
A cidade de Camamú, que da o nome à baia, fundada em 1561, já foi palco de grandes lutas e invasões. Foi à segunda economia do Estado em tempos passados, mas teve um crescimento muito desordenado. Os holandeses e ingleses que estavam de olho em sua localização e em suas fontes econômicas, fizeram várias tentativas de invasões, sendo sempre rechaçados pelos colonos e índios da tribo Macamumu que obstruíam o canal de acesso à cidade com pedras, dificultando a entrada dos navios invasores. Essas pedras, até hoje estão no mesmo lugar, dando margem a várias estórias sobre o jeito baiano de ser.
A baia de Camamú é um desses lugares que deixam saudades, apesar do beradeiro, que é aquele que mora a beira do rio, já ter adquirido muitos hábitos da vida moderna, ainda assim vive com os costumes dos ancestrais. Os lugarejos são de uma tranqüilidade impar, os veleiros que ali aportam são recebidos com um carinho especial por todos. Sempre que desembarcamos, somos presenteados com sacolas de frutas, peixes e crustáceos, ofertados com um sorriso que encanta.
Na ilha do Campinho, local de nossa primeira ancoragem, como de todos velejadores que entram nesse paraíso, o velejador é recebido por três figuras fantásticas, três senhoras que dão as boas vindas a todos, com carinho tão grande que e difícil não se apaixonar. Aurora, Onilia e Aidil, a Onilia diz que já namorou até com o aviador e escritor Antoine de Saint-Exupery, quando ele pousou na região em uma das suas muitas viagens. Ela mostra até a casa onde ele dormiu e algumas lembranças por ele deixadas. As moquecas e cervejas servidas na casa da Aurora são puros caprichos, numa simplicidade que encanta. É difícil levantar ancora do Campinho!
A Ilha Grande de Camamú é um dos maiores povoados da região, tendo inclusive uma mineradora, que já foi uma das maiores empregadoras do município, mais hoje tem sua produção bem reduzida. A ancoragem na Ilha Grande também é muito gostosa dependendo do vento que esteja soprando.
A Ilha da Pedra Furada, seu nome vem da grande quantidade de pedras com furos arredondados inclusive umas enormes que servem de cartão postal, tem um banho de mar maravilhoso, mais a ancoragem é difícil, sendo possível somente em um pequeno ponto.
As Ilhas de Sapinho e Goió têm uma ancoragem bem abrigada protegido dos ventos sul e sudeste, que às vezes castigam a região. Em Sapinho a pedida é se deliciar com as lagostas servidas nos bares dessa pequena ilha. A população é carinhosamente acolhedora.
Cajaíba do Sul, outro povoado que teve grande importância no período do Brasil colonial, quando as mercadorias eram transportadas pelos saveiros. Os estaleiros de Cajaíba produziram, e até hoje produzem, os melhores saveiros e escunas do sul da Bahia, recebendo encomendas do mundo todo. Todos os anos dezenas de barcos saem de seus estaleiros.
Ilhas de Tubarões, Tatus e Germana, ilhas semi-desertas que se pode ancorar uma semana e não ver ninguém.
Na Cachoeira de Tremembé no fundo da baia de Camamú, a ancoragem é limitada pelo pouco espaço e profundidade, mas em compensação o lugar e fantástico, pode-se chegar com o barco até embaixo da cachoeira que cai em meio à mata atlântica.
A região de Camamú é conhecida como costa do dendê, pois os melhores óleos de dendê do mundo saem de suas fabricas artesanais. É um lugar onde todo velejador tem por obrigação conhecer e quem não quer ir de barco, mas gosta de lugares paradisíacos não pode deixar de ir. Levantar âncora de Camamú é muito difícil, mais precisamos suspender e levantar as velas, pois ainda temos muitos lugares para conhecer, além do que voltaremos, com certeza.

Nelson

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