sexta-feira, 15 de maio de 2009

VIDA A BORDO 01

Como se faz para morar a bordo? Esta pergunta esta na cabeça de todos que amam o mar ou pretendem fazer um cruzeiro num veleiro oceânico ou simplesmente tem curiosidade sobre o assunto.
Existem muitas teorias sobre o assunto, mas nenhuma demonstra com clareza a realidade. São formuladas, muitas vezes, por velejadores que fazem pequenos cruzeiros, velejadores de finais de semana ou velejadores de alpendre, que são aqueles que velejam muito em baixo da sombra da palhoça do clube, tomando umas cervejinhas. Mais a verdade é que a vida a bordo requer um bom planejamento para se ter resultados que satisfaçam os objetivos. Não quero aqui lançar mais uma teoria, mas aquele que gosta do mar e tem vontade de um dia morar a bordo, precisa passar pela experiência, tirar suas conclusões e analisar sua realidade social, financeira, educacional, de saúde e principalmente de tempo disponível.
Com a gente não foi diferente, esta pergunta sempre esteve na nossa cabeça, demoramos cinco anos para descobrir. Nesse intervalo, lemos muitos livros e ouvimos muitas palestras sobre o assunto, no dia que decidimos ate sua realização foi apenas 10 dias. O tempo de vender alguns imóveis, fechar empresa, desfazer apartamento, fechar conta em banco, encerrar cartões de credito, desfazer-se de bens pessoais, porque no barco somente o essencial, e vir de sacolas e muita boa vontade para dentro de nosso novo mundo, sem traumas, sem mais perguntas e sem medo, apenas querendo acertar e viver essa nova vida cheia de encantos. Quando chegamos e após a primeira noite dormindo a bordo pensei: Porque não viemos antes! Era uma coisa que Lucia sempre quis fazer, eu e que protelava. A família, não preciso nem falar sobre a reação contraria a essa decisão. Até hoje não entende, nem apóia. Alguns podem achar que isso é um grande empecilho, para mim foi muito fácil, com situações muito divertidas. Os amigos de terra nos olhavam com espanto e, às vezes, admiração, loucos era a palavra mais dita. Dos amigos do clube, somente recebemos incentivos e comemorações. Os amigos cruzeiristas, que são muitos, não é preciso falar a reação, pense numa turma arretada!
Já tínhamos feito várias viagens, inclusive duas de Recife-Fernando de Noronha-Natal, mas sempre na chegada, tínhamos que voltar para casa e voltar a viver como não desejávamos mais. Dessa vez era diferente, o barco seria a nossa casa a partir dali.
Levamos o barco para Camamú/Ba, uma viagem de 600 milhas e 4 dias e meio de mar, sem nenhuma parada, com ventos a favor, mar super calmo, muita pescaria e sem nenhum problema no barco, nem com a gente. Esse foi o nosso batismo. Não poderia ter sido melhor. Tivemos a companhia de Pedrinho e Manoel, dois irmãos da Praia de Enxú-Queimado/RN, e amigos para todas as horas.
Ancoramos na Ilha do Campinho, baia de Camamú, que faz parte da Península de Maraú no sul da Bahia. Um lugar paradisíaco, com muito verde, muita fruta e com um mar maravilhoso. Nesse paraíso passamos quatro meses trabalhando em um restaurante com apoio náutico. Nada cansativo. A beleza e a tranqüilidade do lugar não permitiam cansaço, lugar dos mais agradáveis. Com o barco ancorado na frente, trabalhávamos durante o dia e dormíamos a bordo. Era um trabalho super legal. Nossa roupa de trabalho era bermuda, camiseta regata, calção de banho, sandália ou mesmo descalço. Nossa clientela vinha 100% do mar ou pelo mar. Tínhamos a vida que queríamos ter e mais um pouco. Fazíamos pequenos passeios pela baía e ótimas amizades com os ribeirinhos e velejadores que sempre chegavam de suas viagens dispostos a um bom papo.
Depois de quatro meses, tínhamos que continuar nossa viagem e mudar o quintal de nossa casa. Porque morar a bordo e assim mesmo, vivemos ao sabor dos ventos e quando ele esta favorável temos mais é que aproveitar.
E assim, fomos para Salvador/BA.



Nelson Mattos Filho

Um comentário:

  1. Aos amigos Nelson e Lúcia

    Parabéns pela iniciativa, agora com este canal que se abre, teremos sempre a oportunidade daquele bate papo gostoso, que
    costumeiramente temos no palhoção do Iate Clube do Natal, aguardando o por de sol sobre o rio Potengi(quem não conhece não imagina o que está perdendo).
    Tenha a certeza de que vcs estão incentivando muito a nossa comunidade náutica, e com certeza terão muitos seguidores.

    Um forte abraço e sempre Bons Ventos

    Helio Milito - Flotilha Day Sailer

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